Um escritor inglês, convertido ao cristianismo na primeira metade do século XX,Chesterton,
escrevia num dos seus livros (O amor ou a força do Ventos)
que o nosso mundo moderno caracteriza-se, entre muitas outras notas, pelo absurdo no campo dos valores. Dava um exemplo bastante significativo desse absurdo ao apontar os educadores
– que sem dúvida nenhuma são valiosos dentro da sociedade
– como pessoas mais consideradas do que os pais, porque os professores ensinam o que é necessário para se ter uma posição cultural e profissional dentro da vida.
Os pais, entretanto, são muito mais do que os mestres, pois são os que cooperam com Deus para que se transmita o dom da vida dos filhos e para que estes sejam educados para a vida na sua integridade e totalidade.A educação privada na família pode ter um horário e uma qualidade bem superior à das melhores escolas públicas e privadas, e por isso, faço um retorno ao grande escritor inglês há pouco mencionado. Chesterton, na mesma obra literária sobre o amor afirmava o seguinte:
“Todo o mundo sabe que os mestres têm uma tarefa cansativa e frequentemente heróica, mas não é injusto recordar que nesse sentido têm uma tarefa excepcionalmente feliz.
O cínico diria que o mestre tem a sua felicidade em não ver os resultados do seu próprio ensinamento.
Prefiro limitar-me a dizer que ele não tem a preocupação acrescentada (à sua tarefa) de ter que estima-lo desde o extremo oposto.
O mestre raramente está presente quando o estudante morre...
raras vezes encontra-se quando a ‘cortina cai’”.
Os pais, porém, têm o grave e grato dever de educar os filhos, sobretudo no período da adolescência e da juventude, para que cheguem a este momento da ‘queda da cortina da vida’ como pessoas maduras, íntegras, humanamente completas, e não só profissional, científica, cultural e socialmente formados.
Conhecemos cada vez com mais detalhes, inclusive dolorosos, a enorme influência que a tecnologia dos instrumentos de comunicação social (televisão, internet, videogames, celular, orkut, facebook, twiter, revistas eletrônicas, you tube, etc.) exerce sobre o tempo e a mente dos pais e dos filhos.
→ Ainda que os números variam segundo os países e o consumo da televisão vem diminuindo em benefício da internet e outros meios que compõem as redes sociais, vale a pena mencionar que, por exemplo, a juventude européia vê 25 horas de televisão por semana e que nos Estados Unidos esse tempo é medido por dia (8 horas diárias de televisão são consumidas por crianças e adolescentes entre os 8 e 17 anos).
→ O crescimento exponencial do uso da internet é notória enquanto que em 2000, 37% dos jovens italianos tinham acesso a esse meio tecnológico, em 2008, na faixa etária 12 a 14 anos, esse índice atingiu o nível de 95%.
O que se percebe no nosso mundo midiático é o império da Comunicação estendendo-se com mais rapidez e profundidade que os antigos impérios do Ocidente e do Oriente.
O espantoso de toda essa expansão das redes sociais, benéfica com certeza desde um ponto de vista informativo, é que tanto a família quanto os poderes públicos têm uma preocupação bem menor com essa “dieta midiática escolhida pela juventude” em relação aos problemas de saúde causados pela alimentação atual (vide, por exemplo, a questão da obesidade, da bebida e dos transgênicos).
Na família cabe aos pais o controle dessa “dieta” para que os filhos(as) não estejam com um ‘balanço nutritivo deficiente’ por não saberem usar convenientemente esses meios tecnológicos proporcionados pelo progresso e facilitados pela economia de mercado.
Permitem-me ler o texto que reflete perfeitamente esse “balanço nutritivo deficiente” que deve ser bem controlado dentro de uma família que é realmente educadora e evangelizadora.
“Estava baixando do iTunes o trecho de um filme para vê-lo no meu Ipod vídeo enquanto falava com meu primo na Escócia via Skype. Entretanto transmitia por bluetooh um documento word desde meu celular para a impressora e me questionava por que ainda não tenho o navegador via satélite Tom Tom no meu GPS Treo, fundamental para andar pela cidade na minha moto Vespa. Depois disso li no meu Zagot os editoriais do Washington Post e informei-me rapidamente que filmes passavam nos cinemas do meu bairro e não me interessei por nenhum deles nessa tarde. De repente, sempre na Internet, chega-me uma notícia de agência que diz: ‘primeira mensagem natalina do Papa: homem tecnológico sofre risco de atrofia espiritual’.”
O caráter irônico desse texto refere-se:
1. Balanço imediato
→ cada novo meio de comunicação introduz certamente nas famílias um crédito científico-cultural, mas traz com ele, simultaneamente, um débito humano incrível.
Exemplo:
- desestruturação da família;
- diminuição do pensamento verbal e lógico em “benefício” do pensamento visual e virtual;
- crescimento verificado de dois distúrbios que se refletem no lar e nas escolas
→ DDA (Desordem de Déficit de Atenção)
e DHA (Desordem de Hiperatividade).
- uma ‘paz familiar’ artificial, uma vez que cada membro da família está ‘plugado’ num aparelho eletrônico e não mais discutem...
mas também não mais dialogam, não mais se conhecem na intimidade, o mergulho no mundo virtual e alheio aos outros cria um estilo de vida e de pensamentos que acaba modificando os critérios de valorização e, o que é mais grave, gera conteúdos mentais e emocionais que contradizem a natureza e o papel da família natural.
2 – Mensagem à XLI Jornada Mundial da Comunicações Sociais
– 2007.
“A educação para os meios deve ser positiva.
Colocando as crianças (jovens) diante do que é excelente, estética e eticamente, se lhes ajuda a desenvolver a própria opinião, a prudência e a capacidade de discernimento...
A beleza, espelho do divino, inspira e vivifica os corações e as mentes dos jovens, enquanto que a feiúra e a vulgaridade têm um impacto deprimente nas atitudes e comportamentos”.
Uma das belezas existentes na família é a formosura das conversas
– verdadeiros diálogos
–, que não consiste só em instruções, tampouco só regras de vida.
Creio que na nossa atualidade cultural e científica, influenciada em demasia pela comunicação de massas deveria emergir na família e desde a família um conteúdo mais precioso do diálogo humano, que consistiria em algo que ainda se pode dizer e não mais em algo que se deve informar ou em algo que só se deve visitar ou mostrar ou até vender.
Explico-me melhor → os pais, os avós, os adultos em geral devem preencher suas conversas, seus diálogos, com temas simples, sugestivos e atraentes, pois a juventude
– também a infância nos dias de hoje
– sabe muitas coisas, conhece muitas novidades tecnológicas e culturais, sabe o que não quer mais, mas ignora profundamente algo que ainda se pode
– se deve – dizer, isto é, o novo presente no cotidiano da sua vida juvenil.
A igreja é depositária e transmissora do Evangelho, isto é, da Boa Nova que é precisamente a profunda comunhão de vida e de amor que Deus estabeleceu com todos os homens e mulheres através da palavra revelada e da sua Intimidade com o homem .
Essa Revelação contínua e gradual consiste em um olhar interior que sabe distinguir muito bem aquilo que vem do alto e que está acima de tudo.
Na Igreja doméstica construída sobre o matrimônio entre um homem e uma mulher e aberta à transmissão da vida e da educação dos filhos também há uma profunda comunhão de vida e de amor a Deus, e chegou o momento histórico-cultural – também eclesial – da revelação, via diálogo (não via internet, nem redes sociais), daquilo que vem do alto e está acima de tudo, que é o nosso diário, a nova pessoa que cada um é à medida que os dias, os meses, os anos de vida transcorrem.
Que conteúdo tão pobre está presente na ‘mesmice’ das informações obtidas via internet
– violência, sexo, pornografia, linguagem sintetizada, zipada, comentários negativos, teses de mestrado ou doutorado copiadas, críticas e calúnias, anti-valores, etc...
–; que riqueza tão grande nesses diálogos intra-familiares e inter-familiares onde os interlocutores – esposos, pais – filhos, irmãos, parentes – ‘mergulham’ no ‘twiter’ da intimidade e revelam o que está acima de tudo e vem do alto: alegrias, tristezas, ideais, vitórias, derrotas, quedas e ascensões, conquistas de valores, encontros inesquecíveis... conhecimentos essenciais....Deus em primeiro lugar!
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